9 de janeiro de 2011

Corpos Mutantes


1- Annamaria Jatobá apresenta em seu texto- Velhice, palavra quase proibida; terceira idade, expressão quase hegemônica- um interessante comparativo entre os vocábulos "velhice" e "terceira idade"presentes em anúncios publicitários de cosméticos veiculados em revistas femininas na década de 90. A principal observação é a preponderância do vocábulo terceira idade sobre o velhice.  Jatobá observa que no universo da publicidade de cosméticos o fenômeno do envelhecimento é sinônimo de decrepitude. Esta visão cristalizada convive com outra  que aponta a perpectiva da terceira idade como uma nova possibilidade para o autodesenvolvimento de forma ativa e direcionada ao lazer. Na publicidade, os termos velhice/terceira idade trazem com eles valores substanciais de natureza social e/ou política. Surge assim o politicamente correto como um fenômeno que vem promovendo uma re-interpretação para situações de ordem política, econômica e social.Como não foi criado por ninguem ele surgiu da decadência do espírito crítico da identidade coletiva.

2- O texto de Danilo Barata- O corpo e a expressão videográfica: a videoinstalação como estratégia de uma narrativa corporal- é uma análise do corpo, suas inscrições e acontecimentos apresentados através de duas videoinstalações nos anos de 2002 e 2003 em Salvador. Na sociedade atual o corpo recebe um destaque especial. Os padrões estéticos atuais vão além da moda e interferem na construção do próprio corpo. Barata afirma que"tais padrões, tornando-se pontos de referencia, lançam o homem numa procura desenfreada de espelhos externos, fetiches de uma sociedade de consumo, que possibilitam a construção de uma imagem ideal". Assim, o homem ocidental vem sendo impelido a comprar modelos físicos dsitantes da realidade. As transformações físicas com implantes e mutilações cirúrgicas são corriqueiras na contemporaneidade, marcada pelo inconformismo com o próprio corpo. A experiência da videoarte que Barata desenvolveu foi uma fusão entre arte e tecnologia. Ao apresentar num stand imagens de diversos modelos, ele solicitou que os presentes expressassem o que sentiam ao ver os modelos, ao que eles respondiam gostar de determinados corpos ou partes deles embora os próprios modelos demonstrassem insatisfação com os próprios corpos e dispostos a intervenções cirúrgicas para modificá-los.Houve uma sonorização específica com sons cirúrgicos. A segunda experiência desenvolvida o autor apresentou imagens de modelos ao lado de palavras como beleza, vigor, juventude e havia a sonorização de desordenamento no ambiente.Na outra parte da experiencia apresentava uma performer fazendo exercícios com a respiração desregrada e ansiosa contrrapondo-se a imagens de atividade física involuntária.As experiências de Barata apresentaram outros aspectos da corporalidade como a insatisfação com os corpos, identidade e pertenças. ele apresentou o corpo como uma fonte inquietante  e transversal de comunicação, sendo palco de celebrações na cultura ocidental ampliando o sentido do fazer artístico e trabalhando as potencialidades dos novos meios .

3- O texto O espetáculo do ringue: o esporte e a espetacularização de eficientes corporais de Silvana Gollner e Cláudio Nunes apresenta uma reflexão sobre a potencialização dos corpos em nome da beleza, juventude, performance ou da saúde, entendidos como resultantes do investimento da racionalidade tecnica que marca os corpos  a partir de performances variadas.A espetacularização dos corpos contemporâneos pode ser observada em várias instâncias sociais que produzem novas eficiências corporais analisando o quanto representações idealizadas de saúde, beleza e performance colaboram na atualidade para designar que os corpos que não se ajustam a essas eficiencias construídas são consideradas deficientes e inferiorizados. O locus da investigação foi na academia e num centro de treinamento especializado em preparação de atletas em Porto Alegre. A modalidade dos atletas estudados foi o M.M.A.- popularizada no Brasil como Vale Tudo. A popularização deste esporte em nosso país traduz-se em novos hábitos e costumes ligados a ela como vídeos e revistas, indumentária e modificações corporais nos atletas que a praticam como cicatrizes e deformações nas orelhas. Os atletas de Vale Tudo enfrentam formas árduas de preparações físicas, tecnicas, táticas, químicas e psicológicas cujos resultados são alcançados na performance pública onde o corpo é o locus do aprendizado. Este corpo lutador recebe um alto investimento para tornar-se potente, hábil e eficiente garantindo condições mínimas para participar de um confronto.A rotina de treinamento tático desenvolve o corpo do lutador. São diversos tipos de lutas que eles precisam dominar além de desenvolver força e resistencia para dominar os adversários. Além da força física o lutador precisa ter um certo condicionamento mental utilizando estratégias certas para evncer a disputa. A tecnologia está à disposição dos atletas através de aparelhos que potencializam os exercícios.O corpo do lutador também enfrenta desafios que residem nas sombras como o uso de substâncias anabolizantes que, embora tenha seu uso evidenciado, nunca é admitido e o uso excessivo de analgésicos e similares para a tolerância à dor. O corpo do atleta de Vale Tudo é malhado, forte, ágil, eficaz e, sobretudo, vitorioso-uma meta a ser atingida pois representa a possibilidade concreta de aceitação e admiração entre os pares. Outras marcas corporais fazem parte do ambiente do Vale Tudo como as tatuagens tribais, os cortes de cabelo, as orelhas deformadas e as cicatrizes- que são os sinais visíveis e paupáveis de uma investim ento inscrito na própria pele. O ringue é o máximo da espetacularização do corpo e da performance do atleta de Vale Tudo, ambos potencializados pelas diferentes etapas que integram sua construção.

4- Malu Fontes, analisa no texto- Os percursos do corpo na cultura contemporânea- a presença e as caracterísicas de um padrão físico-corporal considerados como canônico. Este corpo é resultado de um conjunto de investimentos em práticas e artifícios que visam alterar as configurações anatômicas e estéticas. A corporiedade a que Fontes refere-se é ilustrada pelo corpo feminino que , no discurso publicitário, situa-se mais vulnerável`as mensagens veiculadas nos meios de comiunicação de massa, sobretudoa à mulheres jovens e urbanas que são objetos preferenciais para a pubblicidade. O corpo canônico deste texto é aquele desejável nos meios de comunicação de massa na atualidade. Os padrões que hoje definem este corpo canônico são passíveis de alteração ao longo do tempo. O fenômeno do culto ao corpo parte de um estágio em que o corpo é demonizado, escondido, fonte de vergonha e pecado e culmina com o corpo das academias e a multiplicidade de estratégias, cirurgias plásticas, implantes, tecnicas médicas, químicas, cosméticas e de vestuário. É onde o indivíduo recorre a adoção voluntária a métodos e práticas paraa configurar o corpo biológico transformando-o num corpo potencializado em seus aspectos estéticos. Fontes afirma em seu texto que, ao longo do século XX, o corpo passa por três estatutos básicos: o corpo representado visto pelo olhar dos outros, o corpo representante,ativo, autônomo, contestador, defensor de ideais e o corpo apresentador de si mesmo, porta-voz da forma e não de conteúdos, reconstruído à base de intervenções cirúrgicas e substâncias químicas. Esse corpo é, em si mesmo, o próprio espetáculo.Assim sendo, todo corpo que não se perfila a esse projeto tende a ser classificado como corpo dissonante, inválido de acordo com a lógica da boa forma física. É o corpo que não adere aos artifícios da reformulação e adequação da aparência e tende a despertar reações de estranhamento e de repulsa. A dissonância é comumente transformada em rejeição por parte do outro com o qual se confronta. O corpo dissonante é um corpo ausente dos discursos culturais e, quando exibidos nas mídias, é inscrito sob o rótulo de ficção e traduzido pela obesidade, velhice, deficiencia física ou qualquer limitação de ordem física, tendendo a se tornar um espetáculo que representa o grotesco, seja na tela do cinema, tv ou videoclipes. Para fugir deste estereótipo grotesco recorre-se cada vez mais aos vários processos em busca da construção do corpo canônico.

5- Corpo cyborg e o dispositivo das novas tecnologias- Homero Lima traz em seu texto a atual aceleração tecnológica impulsionada por desenvolvimentos científico-tecnológicos como robótica, inteligência artificial, biônica, bioengenharia, nanotecnologia, biologia molecular, genômica, biotecnologia que tem propiciado diversas possibilidades de transformação tecnológica do corpo. A contínua mecanização do humano e a intensa vitalização das máquinas trangride as fronteiras do orgânico e do maquínico, do vivo e do não-vivo, do humano e da máquina. Segundo Lima, mesmo a fronteira do vivo e do não-vivo revela-se problemática, ou seja, torna-se hoje difícil definir a vida. Ele apresenta outra questão instigante: onde termina o humano e onde começa a máquina? Ou onde termina a máquina e começa o humano? Vale a reflexão.